quinta-feira, 2 de outubro de 2008

MANIFESTO

Ritmos impensados e interiores inexistem

Na matéria de que sou feita,

Na anti-existência das minhas palavras inventadas,

Anti-música, amoral desapegada,

Colada às paredes de uma caixa cristianizada,

Ouvi lá longe nos montes,

Ouvi:



Não, silêncio, anti-silêncio que se auto-abafa.

Pois que montes, que montes?

E que longe? Perto e antes fosse a meio,

A anarquia nunca se é, impõe-se como não sendo

Quereis a ordem mais que quereis o resto.

Manifesto o meu desagrado

Numa petição inacabada: virtual não é imaginado

Virtual é real imitado e

Tão triste e tedioso como só o real realizado.

Concretizado o enfado, e de cima do estrado

As térmitas amontoam-se e fazem desfiles.

Adiante carneirada! Vida regrada

Saudável exercício do espírito encarnado

Legumes e fibra, água e marasmo.


Na flacidez natural das ideias

Terceiras e centésimas intenções do demónio!

Demónio? Satã!

Pulsando debaixo do divã.


Que esforço, que fundo me escavo!


Ou não, não! raspo a superfície

Mas esforçadamente

Porque consciente

Tudo custa, tudo perdura

Vê-se e revê-se e agoniza-se.


Agoniza-se, e como!

Ana Sardoeira

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