sábado, 27 de setembro de 2008

AMAR... ANTE


Elegia do Amor, Teixeira de Pascoaes (excerto)


I
Lembras-te, meu amor,

Das tardes outonais,

Em que íamos os dois,Sozinhos, passear,

Para fora do povoAlegre e dos casais,

Onde só Deus pudesse

Ouvir-nos conversar?

Tu levavas, na mão,

Um lírio enamorado,

E davas-me o teu braço;

E eu triste, meditava

Na vida, em Deus, em ti…

E, além, o sol doiradoMorria, conhecendo

A noite que deixava.

Harmonias astrais

Beijavam teus ouvidos;

Um crepúsculo terno

E doce diluía,Na sombra, o teu perfil

E os montes doloridos…Erravam, pelo Azul,

Canções do fim do dia.

Canções que, de tão longe,

O vento vagabundo

Trazia, na memória…

Assim o que partiu

Em frágil caravela,

E andou por todo o mundo,

Traz, no seu coração,

A imagem do que viu.

Olhavas para mim,

Às vezes, distraída,

Como quem olha o mar,

À tarde, dos rochedos…

E eu ficava a sonhar,

Qual névoa adormecida,

Quando o vento também

Dorme nos arvoredos.

Olhavas para mim…

Meu corpo rude e bruto

Vibrava, como a onda

A alar-se em nevoeiro.

Olhavas, descuidada

E triste…

Ainda hoje te escuto

A música ideal

Do teu olhar primeiro!

Ouço bem a tua voz,

Vejo melhor teu rosto

No silêncio sem fim,

Na escuridão completa!

Ouço-te em minha dor,

Ouço-te em meu desgosto

E na minha esperança

Eterna de poeta!

O sol morria, ao longe;

E a sombra da tristeza

Velava, com amor,

Nossas doridas frontes.

Hora em que a flor medita

E a pedra chora e reza,

E desmaiam de mágoa

As cristalinas fontes.

Hora santa e perfeita,

Em que íamos, sozinhos,

Felizes, através

Da aldeia muda e calma,

Mãos dadas, a sonhar,

Ao longo dos caminhos…



1 comentário:

Ana Alves disse...

Cuidado com as imitações.
AMAR(ANTE)